03 agosto 2012

Eu mesma...

Esse ócio, é um deboche
Carrega minha alma para estagnação absoluta
A mente expande, cria, produz, imagina
E o corpo padece, estaciona, nega, falece
Nada se realiza, apenas fantasias negras
Histórias tristes, finais trágicos
Idas sem voltas
Partidas precoces...
E o doce amargor espalhado pela boca
E o céu não tem estrelas
O palato está nublado,
Próximo ao nó da garganta!
Onde vamos mesmo?
Sim, vamos adiante ali mais pro fundo
Profundo desânimo, profunda desmotivação
E o humor está viajando
Em ondas curtas, médias, longas
Numa retransmissão que repete a toda hora
O que já foi, o que já deu errado e insiste e persiste
Em abarcar meus desejos.
E eu não quero mais, mas minha negação não é consciente
Eu digo palavras de recomeço a toda hora
Mas a extensão desse vocabulário, não alcança espaço pra fora da boca
Não chega a se tornar oral...
É apenas uma conjugação verbal muda, que transita nos meus desejos
Mas não se manifesta na realidade...
É como se fosse um sonhar, mas que no final não passa de pesadelo!
Sinto falta de mim...
Tenho até me procurado, me convidado para sair
Tenho contado piadas para mim mesma...
Às vezes eu rio, mas é com o sarcasmo que mais me divirto
Essa necessidade fútil de fazer mal para os outros!
Fantasio tantas crueldades, que se elas se tornassem realidade,
Não sei não, acho que pena de morte se tornava lei nesse país!
Pensamentos ediondos? Não sei classificar!
Então, quero me manter muito acordada...
Estar num alerta frequente, com olhos bem abertos
Mas não quero ver, porque ver ainda me faz mais mal
Ver é saber que a realidade está ali dando tapas na sua cara todos os dias.
Então vou ficar alerta, mas isolada dessas questões que me afiam as garras
Porque não quero ferir, nem a mim nem a ninguém
Até mesmo eu sei que esse meu jeito de amar é errado
Mas é o único que eu sei e talvez não quero que seja diferente!
As coisas estão acontecendo, mas eu só estou na paisagem
Imóvel, constante, imutável, camuflada
Mas ali... presente
Na calada dos sentimentos puros e impuros que me impulsionam a viver
No meu bem e no meu mal
E já cansei de dizer as mesmas palavras, pedir as mesmas coisas
Ceder em todos os pontos
Ceder até ruir em pó ao chão
Ceder até virar uma estrutura retorcida e irreconhecível
Chega de tantas outras pessoas com quem me preocupar
Chega de saudades e vontades de ter quem eu amo
Quero que o mundo se desintegre em partículas douradas
E chova em pleno céu azul, sem nuvens,
Sem trovões e nem raios
Somente uma tempestade de coisas que não quero mais
Mas estão ali, falam comigo, me perturbam, me corróem acidamente
Explodam-se e sufoquem a si mesmas
Não pertenço a mais ninguém, a não ser a esse vasto e interminável nada
Solidão, me abrace, porque é no seu silêncio apenas que encontro paz.
Deitar-me-ei nesse tapete invisível de indiferença que o mundo me emprestou
Para que eu deitasse e sentisse seus espinhos na pele
E sangro por todos os poros, nesse vale íngreme e convidativo
Com seus degraus que descem para minha mais doce introspecção
Ali, no final de tudo, sou eu mesma
A acusadora e a sentenciada a viver meus dias
Presa em mim mesma, pois minha alma está eternamente aprisionada
Num corpo que sobrevive todos os dias num dilema infindável
De não pertencer a mim mesma!